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Abrigo - Operação Camanducaia

Shelter - Camanducaia Operation

tecidos, matérias de jornal 

dimensões variáveis

2017

Jovens vítimas da Operação Camanducaia enfileirados para fazer a viagem de volta para São Paulo.

Young victims of Operation Camanducaia lined up to make the trip back to Sao Paulo.

No ano de 1974, uma ação conjunta entre a polícia militar do estado de São Paulo e a chamada patrulha bancária capturou aproximadamente 300 jovens, entre 9 e 17 anos, nos bairros do centro de São Paulo, Todos foram encarcerados no então prédio do Departamento Estadual de Investigações Criminais de São Paulo - DEIC. No dia 19 de Outubro do mesmo ano, 93 desses jovens foram colocados em um ônibus por 13 policiais, que tinha como destino o Estado de Minas Gerais, próximo a cidade de Camanducaia. Durante ao que se chama de “excursão” pelos policiais, os jovens foram torturados, espancados por bastões com pregos, mordidos por cães. Obrigados a se despirem, tiveram roupas e documentos queimados, por fim abandonados as margens da rodovia Fernão Dias completamente nus. Ao descer do ônibus pelos sons dos tiros dos policiais, alguns pularam a ribanceira e outros correram. Dos 93 garotos 55 nunca mais foram vistos. Essa ação ficou conhecida como Operação Camanducaia.

 

In 1974, a joint action between the military police of São Paulo State and the so-called banking patrol captured approximately 300 youths between the ages of 9 and 17 in the districts of downtown São Paulo. All were imprisoned in the State Department building of Criminal Investigations of São Paulo. On October 19 of the same year, 93 of these youths were put on a bus by 13 policemen who were destined for the Minas Gerais State, near the city of Camanducaia. During what was called the "excursion" by the police officers, the youths were tortured, beaten by nail poles, bitten by dogs. Obliged to undress, had burned clothes and documents, finally abandoned the banks of the Fernão Dias highway completely naked. As they got off the bus by the sounds shots of policemen some jumped the bank and others ran. Of the 93 boys 55 have never been seen again. This action became known as Operation Camanducaia.

Trabalho comissionado pelo Sesc 24 de Maio na ocasião da exposição São Paulo não é uma cidade: invenções do centro

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Roupas abandonadas por jovens e adultos em situação de rua nos arredores do prédio do Sesc 24 de Maio, assim como nos bairros de Santa Cecilia, Sé, República, Bom Retiro, Consolação, Bela Vista, Liberdade e Cambuci. Foram coletadas entre os meses de Maio e Agosto de 2017. 

Tendo em vista a Operação Camanducaia, Abrigo se desenvolve enquanto um processo ao longo da exposição como evidência de práticas continuadas no que diz respeito a infância violada.

Ao ferir corte às roupas, apresentadas de forma organizada, destitui-se sua corporeidade, seu caráter de reconhecimento de uso ao que antes serviu de abrigo. O corte aqui é tido também como metáfora de violência, de políticas públicas que se perpetuam no centro da cidade, as quais não levaram em consideração esse corpo jovem marginalizado, desabrigado, ou quando levam, é sob a ótica da delinquência.

No que tange o crime de 74, o trabalho pretende apontar para a importância de reconhecer que a prática de violação de direitos não pode ser associada a um tempo já findo. Práticas herdadas nos centros de tortura ainda são condutas hereditárias com outras denominações. É fundamental a ruptura com as estruturas continuadas, que evidenciem com urgência a mudança de conduta dentro do Estado de São Paulo e do Brasil como proposta de reparação com a fragilidade e vulnerabilidade da infância. Em tempo algum foi tão propício falar sobre a infância violada, marginalizada, como na atual conjuntura de São Paulo, que deve apontar novos caminhos para uma cidade que faça as pazes com sua verdade histórica. A infância na cidade, no país, deveria ter outro destino que não seja a morte, o tráfico, a exclusão, as prisões, os desaparecimentos, as chacinas. Condições onde a infância não seja revistada como se a suspeita fosse algo intrínseco a pobreza. 

 

 

Clothes abandoned by youths and adults homeless in the neighborhoods of Santa Cecilia, Sé, República, Bom Retiro, Consolação, Bela Vista, Liberdade, and Cambuci. They were collected between May and August 2017.

In view of Operation Camanducaia, Shelter develops as evidence of continued practices with respect to violated childhood.

By hurting cut to clothes, presented in an organized way, deprived its corporeality, its character of use to what previously served as a shelter. The cut here is also seen as a metaphor for violence, for public politics that perpetuate themselves in the center of the city, which they do not take into account when considering this young, marginalized, homeless body, or when they take it from the point of view of delinquency.

Regarding the crime of 74, the paper aims to point out the importance of recognizing that the practice of violation of rights can not be associated with time already over. Inherited practices in torture centers are still hereditary conduct with other denominations. It is fundamental to break with the continued structures that urgently evidence the change of conduct within the State of São Paulo and Brazil as a proposal of reparation with the fragility and vulnerability of childhood. At no time was it so propitious to speak about the violated, marginalized childhood, as in the present conjuncture of São Paulo, which should point out new paths for a city that makes peace with its historical truth. Childhood in the city, in the country, should have a destiny other than death, trafficking, exclusion, prisons, disappearances, slaughters. Conditions where childhood is not searched as if suspicion were something intrinsic to poverty.

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